Resenha: Nas Trevas e na Luz - Volume I

Livro de Gisele Carmona

Sinopse: leia aqui.

Apesar de Nas Trevas e na Luz ser repleto de elementos que fazem a alegria da garotada de hoje (personagens adolescentes, passagens para mundos sombrios, espadas que brilham, seres “draculescos” que se alimentam de gente, batalhas entre criaturas poderosas etc. etc. etc.), a história tem potencial para se transformar em uma ótima trama adulta. Mas vamos do início...

O livro traz como protagonista a frágil Sara, uma adolescente normal com uma vida normal em um mundo normal. Mas tudo começa a mudar quando ela e três amigos – Caio, Lince e Whitney – resolvem ir a uma estranha praia deserta. Lá, Sara é sugada pela areia, caindo em uma espécie de caverna. Sozinha no lugar, ela se depara com uma espada fincada na rocha, que é na verdade a chave do cárcere de Lorde das Trevas (será que estou explicando isso direito? rs). Apesar das súplicas de uma figura feminina com consistência aquosa surgida de repente, Sara retira a espada e, sem querer, liberta o ente do mal.

Uma adolescente, uma espada e um mundo trevoso

A menina-água mencionada no parágrafo anterior é um dos quatro pilares elementais da natureza (água, vento, terra e fogo), que acabam corrompidos pela criatura maligna liberta e causando catástrofes que destroem a civilização. E, então, ocorre a transição da normalidade para o caos. O mundo transforma-se em um cenário apocalíptico, a vida assume uma rotina de sobrevivência na escuridão e Sara passa de uma adolescente comum a uma líder da resistência humana.

A partir deste ponto, eu poderia ficar aqui falando sobre as criaturas horrendas criadas pelo lorde trevoso, espadas poderosas, batalhas e demais coisas do gênero. Mas isso já foi dito por aí (e muito bem dito!) e não quero me tornar repetitivo (a resenha da Kell traz um texto muito bom para quem quer se inteirar sobre essas questões). Prefiro, então, retomar o assunto iniciado no primeiro parágrafo, sobre o potencial que a história da Gisele tem para se transformar em uma ótima trama adulta.

Três forças buscam a vitória em um cenário de desolação

Vejam só que interessante! Após o mundo mergulhar no caos, surgem três forças em conflito: a do Lorde das Trevas e suas criações (Predadores, Sugadores e o terrível Sobá); a composta por Sara e os sobreviventes humanos; e a representada pela misteriosa OGA (a grande sacada de Gisele). Esta última guarda características muito significativas e deu complexidade à trama. Enquanto as turmas da Sara e do lorde fazem o tradicional papel maniqueísta, representando o bem e o mal puros, a OGA tem contornos mais dúbios. Seu líder propaga boas intenções, mas institui uma doutrina torcida e que usa de meios duvidosos para atingir seus fins. A organização entende que o reequilíbrio do mundo só virá eliminando-se seres humanos inconvenientes, fazendo-se lavagem cerebral em crianças sequestradas, entre outras ações nada recomendáveis. Isso não lembra a filosofia dos criadores de uma tal cruz suástica invertida?

Gisele, autora do apocalipse

Esse e outros detalhes transformam a história adolescente em um conto mais denso. Temos o amadurecimento de Sara, os interessantes conflitos entre antigos amigos que migraram para grupos rivais, os dilemas de uma personagem do “núcleo bom” ligada por laços de sangue a um “ditador”, a neutralidade de uma quarta força cobiçada por todos, a dúvida sobre quem seria realmente a escolhida, o ódio de um rapaz que mostra como um mundo destruído e sem perspectivas pode torcer a mente das pessoas e fazê-las seguir doutrinas com ideias questionáveis, os asseclas do mal com lampejos de bondade... Tudo isso sem perder o tom adolescente, inclusive com a rápida aparição de um semelhante de Sobá, um tal Maiden, fazendo clara alusão à banda Iron Maiden (ou estaria eu enganado?).

Só fiquei chateado com uma coisa (e isso é um elogio, pois mostra como eu estava entretido com a história). Quando faltava pouco para terminar o livro, pensei: “Como será que a autora vai resolver essa complicação toda em tão poucas páginas?” Aí cheguei no final (final?) e lembrei que Nas Trevas e na Luz tem mais um volume. Vou contar um segredinho pra vocês: detesto esse negócio de trilogias, volumes... Livro, para mim, precisa ter início, meio e fim, assim como casa precisa ter chão, paredes e teto. Esse conceito de livros em mais de um volume é uma invenção muito esperta das editoras. O leitor, para ter a história inteira nas mãos, é obrigado a gastar uns R$ 150,00. Incrível é o pessoal não reclamar disso! E ainda gostar! Na minha concepção, mesmo um livro com continuação precisa ter um remate. De qualquer maneira, posso dizer que Gisele criou um “final” bem emocionante para o Volume I, repleto de ação e lances dignos de um filme. Leiam e comprovem!

Valorizem o escritor brasileiro!
Um grande abraço!