Resenha: Persuasão

Livro de Jane Austen

Oi, amigos do Recanto. Finalmente debuto no blog, quase um mês e meio depois do anúncio feito pelo Sergio. Ele me pediu para resenhar livros, mas isso exige tempo e dedicação. Como trabalho todos os dias, demorei a aparecer. Para iniciar a “labuta”, ainda em passo de estreante, escolhi um livro cuja leitura vinha adiando: Persuasão, de Jane Austen.

Na estória, Anne Elliot, nascida em uma família aristocrática inglesa do século XVIII, apaixona-se ainda jovem por Frederick Wentworth, um humilde porém ambicioso capitão da Marinha, de quem fica noiva. Apesar do sentimento mútuo que une o casal, Anne é persuadida por sua esnobe família a rejeitar a oficialização do enlace. Ofendido com a recusa, o rapaz parte para longe, só retornando anos depois, já rico. A protagonista, então solteirona, reencontra seu grande amor e, mais uma vez, vê-se obrigada a considerar os antigos impedimentos que a afastaram do homem que ainda ama.

Com esse enredo simples, Jane Austen consegue desenvolver uma estória vibrante e cheia de intrigas. Ao mesmo tempo em que é irônica, mostrando como as aparências no trato social enganam, é também romântica, levando o leitor a torcer por um final feliz, com direito ao “felizes para sempre” e ao “castigo” dos “vilões”. Para quem gosta de um bom romance no estilo clássico, esses ingredientes são irresistíveis.

Um aspecto interessante em livros não-contemporâneos é a possibilidade que eles dão ao leitor de fazer comparações entre costumes de diferentes sociedades, entre estilos literários afastados no tempo etc. Mas Persuasão, além disso, também se presta para comparar a escrita da própria autora. Quem já leu outros romances de Jane Austen – como os óbvios Orgulho e Preconceito, Razão e Sensibilidade e Emma – percebe que Persuasão, apesar da proposta narrativa semelhante, permeada pelo típico humor inglês e pela rica lapidação psicológica conferida aos personagens, traz algumas “novidades”, como datas precisas no texto (antes inexistentes) e uma heroína balzaquiana. Seria Anne a encarnação da maturidade da escritora, que teria visto a possibilidade de uma mulher mais velha viver um drama romântico até então só aceito se experimentado por moçoilas?

William Gifford

Jane Austen

Ainda dentro do tema “escrita”, faça-se um aparte para a citação de uma polêmica: Jane Austen escrevia mal? Um texto de Ivan Lessa (Escrever bem escrevendo mal), mencionando um pesquisador inominado, aventa essa possibilidade. Segundo o tal, a autora tinha uma “pontuação instável sujeita a chuvas e trovoadas”, “distribuía maiúsculas como quem dá de comer aos porcos” e “não tinha a menor idéia de como e quando abrir um parágrafo”. Assim como os Beatles devem sua grandiosidade ao produtor e arranjador George Martin, Jane Austen deveria ao revisor William Gifford os créditos por “seu estilo correto e sinônimo, até hoje, do que há de mais puro e moderno em matéria de composição literária”, bem como pelos “famosos pontos-e-vírgulas que viraram marca registrada” da escritora. Se isso é fato ou ficção, não se sabe, mas, sendo verdade, estaria claro que a gramática é um peso para muitos escritores (inclusive para grandes escritores) desde tempos remotos.

A despeito da polêmica acima, Persuasão é um livro imperdível, uma obra-prima. Afinal, conforme dito no mesmo texto de Ivan Lessa, “No escritor, em primeiro lugar vem a voz, a mão, o tom - o estilo, enfim.” E, com base nesse quesito, Jane Austen só pode ser qualificada de “genial”.