Resenha da May: This is a Call

Livro de Paul Brannigan

May Furlan

Ler biografias nunca foi bem o meu estilo e nunca tive vontade de comprar livros desse tipo. Simplesmente os via nas prateleiras das livrarias e passava reto (no máximo, parava para olhar a capa e constatar que biografias têm uma capa padrão: o biografado da cintura para cima, ou só o rosto, olhando para você com uma cara de mistério e intelectualidade. Ou só metendo marra de bacana!). Sempre preferi os livros de ficção, pois quando pego um livro eu quero ser levada para outro mundo, sair da minha realidade. A vida real de alguém nunca me interessou (a história da minha já me basta!).

Aí vem a pergunta: “mas se você nunca quis comprar uma biografia, pequena Maynara, como acabou lendo This is a Call?” Realmente, eu nunca quis comprar ou ler a biografia do Dave, pequeno gafanhoto. Acontece que ganhei esse livro de presente e é contra as regras do universo não ler (ou pelo menos não tentar ler) algo ganho. Livro dado não se olha o tema.

Admito que antes de começar a leitura achei que não fosse gostar do livro. Sabe como é, eu carregava certo preconceito. Foi com uma leve relutância que larguei minha releitura de O Morro dos Ventos Uivantes, abri o This is a Call e comecei a me concentrar na primeira página. Posso dizer que valeu a pena. Valeu demais!

Na obra de Paul Brannigan, você encontra documentada não só a história de Grohl, mas também a do cenário musical da época. Ao terminar a leitura, é impossível não se sentir pronto para dar uma aula sobre a história do punk e suas bandas mais marcantes e indicar os clubes underground que marcaram uma geração de Washington, D.C., como se você tivesse frequentado o lugar. Para ser sincera, boa parte do livro é focada na história do punk e do grunge, de como o Nirvana levou o estilo às massas e tudo mais. Há horas em que você esquece que está lendo uma biografia sobre o Dave. Isso poderia contar muitos pontos contra o livro, mas não chega a ter um efeito tão devastador graças à forma como ele foi escrito. A leitura é leve e flui naturalmente, nada comparado à leitura maçante que eu imaginava encontrar.

O livro narra a história do punk, do Nirvana e... de Grohl

De fato, a única coisa meio chatinha é esquecer de estar lendo a biografia do Dave, não um livro sobre a história do punk. Apesar de essa história ser interessante e prender a atenção, o leitor acaba ficando perdido quando o autor resolve voltar a focar no Grohl. Você tem a cabeça preenchida por páginas e páginas de puro Black Flag, Sex Pistols, Hüsker Dü, Scream, Dain Bramage e Minor Threat, para depois ter que lembrar o nome de fulano e aí perceber que estamos falando sobre o biografado novamente.

Não tenho bagagem suficiente para afirmar ou não se tudo o que Brannigan escreveu é verdade. Nunca havia pesquisado sobre o Dave Grohl como pessoa. Para mim ele sempre foi o ex-baterista do Nirvana, fundador do Foo Fighters. E só! Fato é que é impossível terminar o livro sem morrer de vontade de escutar Nirvana ou Foo Fighters e sem achar Dave Grohl o cara mais legal do rock. Talvez o autor tenha romantizado um pouco a vida do faz-tudo-Grohl, aliviado as histórias e omitido algumas coisas, mas isso não interfere em nada (na verdade, dá aquele gostinho maravilhoso que só sentimos quando lemos um bom livro de ficção).

Resumindo, This is a Call é leitura obrigatória para qualquer fã do trabalho desse cara incrível chamado Dave Grohl. Conhecer a história por trás de músicas como Everlong, I Should Have Known, In Your Honor e I'll Stick Around ou de cada álbum é uma experiência incrível. Sem contar a arte usada na edição, um deleite à parte para os olhos. Palavra de uma antibiografias de carteirinha.