30/01/2013

Resenha: Contos Infantis Tornam-se Adultos

Livro de Sun Holiver


Skoob
No livro, os contos de fadas tradicionais e seus personagens são abordados sob uma nova ótica, com muita propriedade e bom humor.

Fábulas e narrativas alegóricas dão margem a uma miríade de interpretações. Em função disso, depois que li Ensaio sobre a Cegueira, acabei elaborando o texto aqui linkado, no qual analisei à minha maneira diversos detalhes da história de José Saramago. Seguindo uma linha análoga, Sun Holiver (que, apesar do nome, é uma escritora nacional) pega contos infantis tradicionais e faz uma leitura adulta dos elementos que compõem cada trama. Independentemente do real objetivo da autora, o leitor pode encarar o texto resultante de três formas: 1- a autora quer fazer crer que a visão apresentada por ela na verdade surgiu, de forma consciente ou inconsciente, da mente dos próprios autores originais dos contos; 2- a autora quer mostrar que essa visão foi sendo incorporada aos contos no decorrer do tempo, à medida que as histórias iam sendo passadas de uma pessoa à outra; 3- a autora quer apresentar sua interpretação particular, com enfoque adulto, sobre os contos.

De minha parte, li certo de que o objetivo da autora está no último item, o que talvez seja corroborado, de certa forma, por Celso Gutfreind, cujo texto na orelha diz: “(...) confirma os pensamentos de René Diatkine sobre a que vieram as histórias, que é para nos tornar mais aptos a inventar uma outra história.” E apenas por isso dei quatro estrelas à obra. O exercício interpretativo realizado por Sun, goste-se ou não do resultado, é um esforço intelectual/criativo merecedor de respeito.

A impressão que tive sobre o objetivo da autora é reforçada por uma análise feita por ela a respeito do conto Chapeuzinho Vermelho. Sun avalia que a história é impregnada de sexualidade e que o lobo reuniria qualidades do homem sedutor (é “gentil”, tem “garra” e “genialidade”, é dotado de “grandeza”...), todas iniciadas pela letra “g”, o que remeteria ao famoso ponto G, local na vagina que proporciona grande prazer à mulher. Levando-se em conta que essas virtudes só se iniciam todas com “g” no nosso idioma, que não é o mesmo em que foi escrito originalmente os contos, conclui-se que os itens 1 e 2 expostos no primeiro parágrafo desta resenha não fazem sentido. Portanto, se eu inferisse que o objetivo da autora não está no item 3, a pontuação do livro cairia imediatamente de quatro para uma estrela.

Talvez a parte mais interessante do livro esteja na análise de Branca de Neve e os Sete Anões, cuja protagonista encarnaria a mulher doméstica. E os pequeninos moradores do bosque, os homens infantis. Para Sun, cada anão seria a tradução de uma característica do companheiro imaturo. As descrições contêm detalhes realmente interessantes, sagazes até.

Ontem a Luzia, minha esposa, perguntou: “Sergio, vamos jantar em um restaurante?” Então, eu a atirei de imediato sobre a cama. Diante do olhar de reprovação dela, falei: “Mas não era isso o que você queria? ‘Jantar’ remete a ‘comer’, palavra que nos dias atuais tem novo significado. Restaurante é um lugar onde experimentamos delícias e vivemos momentos de prazer. Então, interpretei o seu convite como sendo um chamado para algo mais picante.” Humm. Tá, tá. Estou brincando (ou não? rsrs) Mas esse episódio, verídico ou não, dá uma ideia do tipo de exercício mental que o leitor encontrará em Contos Infantis Tornam-se Adultos. Para quem gosta de viajar na maionese – no bom sentido, com inteligência e criatividade – o livro de Sun Holiver é uma excelente pedida.

Valorizem o escritor brasileiro!
Um grande abraço!

4 comentários:

  1. hauahauahua Sergio, me perdoe começar um comentário assim, mas foi inevitável!!
    A parte de você jogar (ou não xD) sua esposa na cama, me fez ter um ataque aqui kkkkk.
    Gostei da resenha, muito bem elaborada, embora a obra não tenha me agradado, você foi até imparcial em certos detalhes e acho que isso ficou ótimo para que todos possam criar as próprias opiniões!!
    Adorei, beijocas!

    Jéssica Curto - O Mundo de Ninguém

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  2. Sérgio!
    Muito bem inspirada a tua resenha, impecável, como sempre, tu entraste no climna do livro. Devo dizer-te que dei boas risadas lendo essas análises. Particularmente, acredito na segunda hipótese que tu abordaste sobre a origem da análise dela a partir contos tradicionais, afinal ela é historiadora, meio que um vício(rs) da profissão. Mas a tua referência à "parábola" me fez pensar mais. Bem sacada a questão da língua original em que os contos foram escritos e o uso do português, no caso das palavras que remetem ao ponto "G".
    Quando li a parte dos anões, fiquei procurando exmplos nos ao meu redor marido, irmão, tios, colegas...(rsrsrs).
    A tua participação foi uma honra.

    Abraços,
    Cármen Machado (ideias de canário.blogspot)

    Ps. fiquei curiosa sobre qual versão do "jantar" foi concretizada: a tua ou a da Luzia? (rsrsrsrs)

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  3. Não tinha ainda ouvido nem lido nada sobre este livro mas parece bem curioso, intrigante, e talvez divertido. Ótimo conhecer trabalhos de autores com tanto talento.

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  4. Sérgio!
    Acho interessante sempre a forma como faz a resenha dos livros.
    Achei bem estimulante e que não gosta da sensualidade sexual? Estimula a libido.
    Parabéns!

    Receber sua visita no blog trouxe ainda mais alegria ao meu dia, muito obrigada! Volte quando quiser.
    Uma semana carregada de felicidade e amor!
    Blogueiras Unidas 1275!

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    Cheirinhos
    Rudy
    BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!

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