10/02/2014

Resenha: O Sincronicídio

Livro de Fabio Shiva


Skoob | Caligo
Certos livros, quando terminados, deixam o leitor em um estranho estado de euforia, como se ele precisasse alardear aos quatro ventos o quanto gostou da história. Senti isso algumas vezes, em especial após ler Cem Anos de Solidão, livro com uma trama fantástica e um final incrível. O Sincronicídio fez brotar mais uma vez essa impressão em meu espírito de leitor; e me fez refletir: o que, afinal, têm em comum os autores capazes de despertar uma forte sensação com seus textos?

Ao autor não basta conhecimento para estruturar uma boa história (alguns simplesmente esparramam sua bagagem cultural pelo texto em nome de um egocentrismo vazio). Ele precisa saber integrá-lo à trama de forma sutil, relevante e sagaz, o que não é nada fácil. A tarefa se torna ainda mais difícil quando o escritor se aventura a misturar matérias aparentemente díspares entre si. Shiva não só consegue promover essa química improvável, mas também nos presentear com um texto cuja melodia se faz linda e evidente, uma verdadeira sinfonia de palavras. Ele mescla fatos reais (alguns desconhecidos do público em geral), verdades esotéricas, cultura geral (incluindo cultura alternativa), filosofia, tecnologia, conceitos trazidos por outros autores (como a psico-história, uma ciência fictícia para prever o futuro apresentada por Isaac Asimov e arguciosamente usada por Shiva), sexo (não se engane: toda a desbragada luxúria em O Sincronicídio tem real relevância para a trama; não há apelação), xadrez, I Ching etc., criando um universo absolutamente original e – por mais incrível que pareça – absurdo e crível ao mesmo tempo. É preciso certa dose de brilhantismo para bolar, sem furos, uma trama como essa; e ainda uma dose extra para contá-la de forma tão coerente e palatável. É de dar inveja... Respondendo enfim à pergunta no primeiro parágrafo: autores são capazes de causar êxtase quando criam histórias que unem conhecimento, originalidade e inteligência; e nisso Shiva mostrou ser mestre.

Conheça o autor
Mas... É possível escrever uma história tão rica e complexa sem parecer soberbo aos olhos do leitor? Sim, caso o autor conheça a melhor acepção da palavra simplicidade e saiba aplicá-la em sua escrita. Fabio, pela forma de redigir, demonstrou saber. Simplicidade não significa arremessar palavras a esmo no papel, como alguns parecem acreditar. A simplicidade – para ser qualidade, e não defeito – precisa ser moldada pelo talento. Simplicidade é ter elegância sem ser arrogante; é ser arrojado sem ser empolado; é ser claro e direto sem prejudicar a densidade do conteúdo; é despir-se de dogmas gramaticais sem, no entanto, agredir o idioma... Em suma – como bem nos ensina Shiva – simplicidade não é simploriedade.

Talvez seja falho classificar O Sincronicídio puramente como um romance policial, pois o texto vai além desse estilo; talvez também seja temerário apresentar uma sinopse muito abrangente da obra, pois resumir uma trama com tantas complexidades pode entediar o leitor. Eu, então, sintetizaria assim o livro de Fabio: “um romance que narra o último dia na vida do inspetor Teixeira, quando ele precisa desvendar assassinatos misteriosos que escondem uma realidade inacreditável, sui generis.” O book trailer oficial da obra optou por outra abordagem (infelizmente, na minha opinião) e começa afirmando: “Uma horrenda série de assassinatos revela um plano secreto para dominar o mundo.” A meu ver, o espírito da obra passa longe dessa frase, que limita o leitor a um aspecto menor do livro. Eu diria que o book trailer, a despeito de seu incrível visual, não faz jus ao texto de Shiva (o vídeo pode ser conferido mais abaixo).

O Sincronicídio é um livro primoroso em todos os aspectos: a qualidade gráfica é impecável, o conteúdo une intelectualidade e entretenimento, a forma é inteligentemente simples... Como eu já havia dito anteriormente, muitas passagens dessa inebriante obra são como um murro no estômago do leitor e, ao mesmo tempo, um bálsamo para a mente. E é com essa ideia que finalizo a resenha, utilizando uma frase encontrada no próprio livro: “a melhor maneira de transcender é transgredir” (p. 364).

Valorize o escritor brasileiro!
Um grande abraço!

5 comentários:

  1. Magnânima resenha!!!
    Depois de sorver essas estimulantes informações só me resta aguardar o momento oportuno para me deliciar com a leitura.
    Parabéns ao Sérgio pela estonteante resenha e ao autor pela maestria na construção do trabalho.
    Abraço.
    Marco Antonio Rodrigues.

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  2. Sergio querido, você falou e disse! O Sincronicídio é um dos melhores livros que já li, e eu já li muitooooooo. Fabio Shiva tem um jeito todo especial de escrever, sua forma de contar uma história é ímpar. Seu livro é erudito e ao mesmo tempo simples. Acho que definiu perfeitamente a forma como ele foi escrito. Um livro que recomendadíssimo!

    Parabéns pela bela resenha! :)

    bj da angel ;)
    http://www.skoob.com.br/estante/livros/todos/14906
    http://www.comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com.br

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  3. Que texto magnífico! A melhor resenha que li a respeito de "O Sincronicídio" até agora; meus parabéns, Sérgio! O livro é fantástico, mas, para quem, como eu, tem a honra de conhecer a pessoa iluminada que é Fábio Shiva, esta característica acaba não sendo uma surpresa, embora seja muito mais profundo do que poderíamos imaginar. Cada detalhe daquelas páginas é recheado de significado. Um verdadeiro presente para a Literatura Brasileira e desta para o mundo - acredito.

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  4. Sérgio!
    Tenho de concordar com você que o Fábio é um escritor excepcional.
    O livro é fantástico e nos coloca para pensar e isso é o melhor, não é um mero livro policial, é uma verdadeira jogada de mestre.
    Concordo em gênero, número e grau com sua avaliação.
    Que alegria poder vir agradecer a visita deita ao blog, volte quando quiser, receberei com carinho. Obrigada.
    Desejo um final de semana carregadinho de luz e paz!
    cheirinhos
    Rudy
    Blog Alegria de Viver e Amar o que é Bom!
    “O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete.”(Aristóteles)

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  5. Li esse livro e adorei! É muita gostosa essa relação de O Sincronicídio com outros autores e conceitos filosóficos. Você termina a leitura com a sensação de que obteve conhecimento e deseja mais, uma fome que nunca é saciada.
    Abraços

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