16/07/2012

Entrevista com Leonardo Torres

O autor de Condenáveis fala de seu corajoso livro autobiográfico


Imagine que você está assistindo ao Fantástico em uma tranquila noite de domingo, quando o nome de seu pai, há muito tempo ausente, repentinamente surge em uma matéria sobre corrupção policial, na qual aparece como um dos principais suspeitos. Leonardo Torres – filho do inspetor “Trovão”, acusado de vender armas a traficantes, além de receber altas propinas dos criminosos – viveu esse drama. Após sofrer com essa difícil e embaraçosa situação, Leonardo a transformou em mote para uma história que conta sua tumultuada relação com o pai. E então nasceu o livro Condenáveis - Uma história de filho e pai.

O autor aceitou gentilmente nos conceder uma entrevista. Vale a pena ler e, depois, assistir ao vídeo abaixo, em que ele também fala sobre sua história de vida e seu livro à Rádio Conexão Jornalismo.

1- Você me parece um jovem de personalidade bastante madura. Na sua opinião, isso teria sido influenciado por sua história de vida? De que maneira?
Uma das primeiras pessoas que leu o livro me disse exatamente isso. “Agora tudo faz sentido. Entendi porque você é tão maduro para sua idade”. Eu não sei fazer essa autoanálise. Nem sei, na verdade, se sou maduro mesmo. Para alguns assuntos, sim. Para outros, não. A vida exigiu um amadurecimento rápido de mim em alguns pontos e acredito que consegui um desempenho satisfatório.

2- Antes de saber sobre o envolvimento de seu pai em episódios de corrupção, você já sentia uma falta de sintonia com ele. Esse afastamento teria sido influenciado, mesmo que inconscientemente, por sua mãe, conforme acontece comumente após a separação de casais com filhos?
Inconscientemente, isso pode ter acontecido sim, mas só um psicólogo poderia dizer. Conscientemente, minha mãe fez de tudo para que eu me aproximasse do meu pai, como conto no livro. Ela foi, sem dúvida, a pessoa que mais se esforçou nesse sentido – muito mais do que ele, inclusive. Depois dele e de mim, ela é um dos personagens mais importantes da narrativa do livro.

3- Se você tivesse um filho que não quisesse vê-lo, como imagina que reagiria? Para escrever o livro, você tentou se colocar no lugar do “personagem” Trovão, buscando construir um texto o mais imparcial possível?
Não busquei ser imparcial. O que eu queria era ser o mais verdadeiro possível comigo mesmo. O texto teria que espelhar meus pensamentos e sentimentos - parciais inevitavelmente – para que eu não me arrependesse depois. É o relato de um filho, do ponto de vista de um filho. Sobre me colocar no lugar dele, nunca fantasiei com isso. Não sei se conseguiria ser um bom pai, mas me esforçaria para isso. Agora já sei que, em caso de insucesso, o filho pode escrever um livro hahaha

4- Escrever Condenáveis o ajudou a enfrentar o fato de ser filho de um suposto criminoso?
Sem sombra de dúvidas. Quando uma pessoa é acusada de tantos crimes, isso respinga em toda a família, amigos e pessoas próximas. Todos sofrem com isso de alguma maneira. No meu caso, foi medo e vergonha. Não conseguia falar abertamente sobre o assunto. Era um tema mais que desagradável. Depois de escrever, lançar e receber as primeiras respostas dos leitores, sinto-me aliviado. Tirei um peso das costas. Esse processo não me incomoda mais.

5- Caso seu pai lesse o livro e o chamasse para uma conversa, você aceitaria o encontro? Que tipo de reação esperaria dele?
Não gosto de pensar nisso. O encontro com ele seria como todos os outros na minha vida: desconfortável. Muitas pessoas me perguntam se ele já leu e eu sinto que há certa expectativa com relação a isso – não da minha parte. Eu preferia, sinceramente, que ele não lesse. Não acho que ele vá entender.

6- O que é mais condenável para você, a corrupção de um policial ou o descaso de um pai?
São duas condenações muito diferentes – uma do âmbito legal, outra do afetivo. Se eu pudesse escolher apenas uma, já seria ótimo. Mas tive que lidar com ambas. Meu pai ainda não foi julgado, então não podemos chamá-lo de corrupto. Nesse sentido, condeno apenas a segunda opção. Ao contrário do que possam pensar, não estou fazendo campanha contra ele, com relação às acusações judiciais que está enfrentando. Prefiro não me intrometer nisso.

Visite o site do autor
7- A vontade de tornar-se escritor surgiu depois dos acontecimentos envolvendo seu pai ou a carreira literária era um desejo antigo? Você pretende levá-la adiante? Se sim, que vertentes pretende explorar?
Posso dizer que escrevo desde criança e sempre sonhei em lançar um livro. No entanto, imaginava que isso aconteceria mais para frente, quando fosse mais velho e me sentisse mais seguro para tal ato. Condenáveis é a realização precoce de um desejo antigo e me estimulou a continuar escrevendo. Quero, sim, trilhar uma carreira nesse sentido, explorando tanto histórias ficcionais quanto reais – ou, quem sabe, misturando de tudo um pouco. Já estou com vários projetos em mente e agora tenho que decidir qual será colocado em prática primeiro.

8- A exposição pública negativa de seu pai e o consequente nascimento de Condenáveis lhe trouxe alguma lição mais profunda? Você gostaria de deixar alguma mensagem para os leitores?
A identificação de muitas pessoas com a minha história é o que mais me surpreende. Descobri que o destino não me escolheu a dedo para viver tudo o que vivi. Outras pessoas passaram por situações iguais ou parecidas e eu nem imaginava. Outros pais foram infelizes, outros parentes foram presos, outras famílias foram superexpostas. De alguma forma, é bom saber que não sou o único. Podemos contar uns com os outros.

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Um grande abraço!

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