09/12/2011

O poder do nome

O mérito é das obras ou da fama?


O mundo literário está presenciando mais um momento de euforia com o lançamento de As Esganadas, cujo autor nem precisa ser nomeado. Mas toda essa histeria tem a ver com a qualidade da obra ou acontece por outros motivos? Permitam-me algumas considerações:

Confesso que não sou um grande fã de Jô Soares. Eu gostava muito da primeira fase do programa Viva o Gordo, exibida na TV Globo no início dos anos 80. Na época, eu ainda era adolescente e ria muito com o Capitão Gay, o Reizinho e outros tipos. Mas, com o passar dos anos, o programa foi me parecendo cada vez mais sem graça. Não sei se o Jô começou a perder a mão ou se fui eu que fiquei menos bobo rs. Fato é que passei a achar os novos tipos meio infantis e as piadas muito pueris. No final dos anos 80, o Jô se lançou como entrevistador no SBT. Hoje, já de volta à Globo, ele está bem solto nessa função e dá verdadeiros shows em suas entrevistas, mas, na emissora do Sílvio Santos, ele parecia um pouco travado e sem expressão. Para perceber a diferença, basta ir no YouTube e comparar uma entrevista atual com outra do final dos anos 80 ou do início dos anos 90. Jô também passou um tempo escrevendo para a revista Veja. E, na minha opinião, esse foi um dos trabalhos mais pobres que ele já fez. Os textos – um reflexo, talvez, do acúmulo de atividades – chegavam a ser constrangedores (pena eu não ter nenhum guardado para mostrar).

Um bom livro ou um bom nome?
Quanto às incursões literárias do humorista (assunto que verdadeiramente me interessa nesta postagem), não posso ser leviano e emitir opiniões, pois jamais terminei um livro dele. Mas eu percebo um fenômeno interessante. As pessoas parecem ler os livros do Jô em uma eterna expectativa de encontrar genialidade nos textos. A maioria não encontra no primeiro, mas dá uma chance ao segundo; não encontra no segundo, mas dá uma chance ao terceiro... E, assim, vão transformando em best-sellers livros medianos. Uma prova disso é que, no Skoob, todos estão na faixa das 3 estrelas. E muitos leitores mostram sua decepção também nas resenhas, mencionando que as histórias do Jô são fracas, que as piadas são infantis e que ele abusa da pseudointelectualidade. Aliás, foi interessante escutar o Jô, em seu programa, contando como entrou no mercado literário. Ele disse que apresentou o original de O Xangô de Baker Street a um amigo figurão (infelizmente esqueci qual). Esse amigo teria avaliado negativamente o livro, mas o Jô, claro, conseguiu publicá-lo. Terminando sua narrativa, ele lançou um chiste para o entrevistado. Algo assim: “Quando o livro chegou à marca dos 500.000 exemplares vendidos, eu falei: ‘É... Realmente não é muito comercial, não!’” (provocando um claro mal-estar na plateia). Essa história deixa evidente o seguinte: as editoras lançam nomes; e os leitores, de certa forma, também consomem nomes. Não é preciso ter muita imaginação para saber o que aconteceria se o original de O Xangô de Baker Street fosse enviado a uma editora por um autor qualquer. Também não é preciso pensar muito para saber como os leitores reagiriam ao lançamento do Xangô se o livro não fosse assinado pelo famoso humorista. É triste, mas verdade.

Termino com uma pergunta fácil de responder: o mérito pelas vendas estratosféricas citadas pelo Jô está na qualidade do produto ou na assinatura que se vê na embalagem? E outra: Será que ele tem consciência disso? É... A vaidade, mais do que a paixão, cega!

13 comentários:

  1. Olá, Sérgio!

    Adoro as reflexões que você posta no seu blog e essa, pra ser sincera, é digna de aplausos!

    Eu tenho um amigo que ama os livros do Jô Soares... Eu comprei um e nunca consegui terminar (O Assassinato na Academia Brasileira de Letras). Eu acho que ele segue uma fórmula que já foi batida: O assassino é sempre uma pessoa estranha, anão, o homem de seis dedos, coisas assim... e ele não inova.

    A segunda coisa a respeito dos livros do Jô é que a leitura não é fluida. Pelo contrário, é enfadante, cansativa, com palavras de difícil entendimento e escrita robusta demais. Nenhum dos livros dele são comerciais... Mas assim como você colocou, ele tem nome e dinheiro. Duas coisas que não é pra qualquer um e que abrem portas pra coisas variadas independente de serem boas ou ruins.

    Eu particulamente não comprarei o livro dele... se eu ganhar eu vou tentar terminar... Mas pelo que vi na entrevista dele no seu próprio programa ao Bial (outro que não vejo graça nenhuma) eu devo parar pela metade de novo, porque ele manteve a fórmula ruim...

    Parabéns pelo texto e encerro meu comentário (quase testamentário...) aqui. Bjinhus!

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  2. Eu também concordo com você, Sergio! Não tenho muita vontade de ler o Jô escritor. Muito fácil vender quando o próprio prestígio vende mais do que talento (não entrando no mérito de se o livro é bom ou não). Mas é fato que toda personalidade vende que nem água (haja vista o exemplo de Eike Batista, com o seu livro recém-lançado esta semana: a Sextante disse que bateu todos os recordes de venda para uma noite de lançamento).

    Dá para refletir mesmo em cima de tudo isso, não?

    Um abraço,

    Kyanja

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  3. Eu li umas crônicas do Jô e li O Homem que Matou Getúlio Vargas. Eu gostei. Li há anos, mas gostei. Tenho muita vontade de ler Assassinato na Academia Brasileira de Letras, mas não posso falar nada.

    Enfim, eu curto o Jô, mas acho que ele vende por ser um astro global.

    Beijos!!!

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  4. Eu tenho vontade de ler mais pela curiosidade por estarem falando tão bem assim. Não sei se é porque é o Jô Soares, mas quero tirar as minhas próprias conclusões.

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  5. Sérgio!
    Acredito que toda escrita e autor tem seu valor, inclusive o Jô!
    Acredita que comentei essa semana com o maridão sobre as pessoas comprarem o livro dele pela fama? Mas, confesso... Sou fã de carteirinha, mesmo que não seja um dos melhores escritores, adoro os livros dele e tudo que se emprenha em fazer, pois ele arrisca de tudo um pouco, é um generalista.
    E esse livro em particular ando bem curiosa por ler.
    Bom domingo para você, Luzia e famíia!
    Cheirinhos
    Rudy

    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com/

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  6. Eu gosto do Jô como entrevistador, assisto sempre o programa. Não li Xangô, vi o filme, gostei mais ou menos. Não despertou interesse em ler o livro.
    Li o livro O Homem que matou Getúlio, dei muita risada, gostei muito.
    Quero muito ler as Esganadas, espero ser a sorteada :)

    Quanto a ele vender muito "pelo sucesso" que ele tem em outros meios ... tem uma parcela de razão, mas, só isso não faz um escritor vender muito, por mais de uma publicação. Há leitor de todos os gostos, para todo tipo de livro. Conheço muita gente que gosta do Jô como humorista ou colunista ou entrevistador e não comprou / leu seus livros.
    Li o Homem que matou GV por indicação de uma amigo.

    Bem, não sou nenhuma entendida no assunto, mas, essa é minha opinião :)

    Li a sinopse e li o 2º capítulo disponível no blog de Para Sempre Ana, muito interessante. Despertou interesse em ler mais.

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  7. Confesso também q assisti muito o Jô comediante nos anos 80 rsss, entrevista vi algumas, mas tenho curiosidade em ler esse livro, parece divertido e interessante.
    Abraços.

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  8. Sou suspeita para falar do Jô. Desde pequena assisto e curto tudo que ele faz.
    Concordo sobre com a matéria do seu blog falando sobre fama e vendas. Mas se formos levar tudo ao pé da letra...bem, nao se consumiria nada nesse mundo que vive de marcas ruins e garotas/garotos propaganda famosos.

    Acho que sobre o nome do livro Xangô, o Jô se referia mais a parte comercial de ser um nome longo e dificil de lembrar e nao propriamente as pessoas nao comprarem livros com nomes complicados.

    Quando escrevo (humildemente escrevo), crio titulos longos que sempre acabam ganhando apelidos. É a forma do leitor lembrar entao esse deve ser um medo das editoras no sentido geral, sobretudo com novos autores.

    O Jô Soares escreve muito bem, mas é preciso um certo humor negro para entender seus livros e curtir.
    Sou muito fã do Jô e preciso ganhar o livro!!!
    kkkk

    Beijos

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  9. Para se lhe ser bem franca,devo admitir que gostaria de ler algum livro do Jô justamente pela figura simbólica que ele representa: a de um gênio.
    Ou não. Preciso conhecer alguma obra sua para avaliá-lo corretamente.

    Zilda Mara Peixoto
    @ZildaPeixoto
    lovezinon@yahoo.com.br

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  10. Pra falar a verdade, conheço pouco do trabaloh do Jô, seja na TV, seja como escritor... Praticamente não assisto TV (nem tenho uma em casa!), mas vi algumas entrevistas do Jô que pareceram boas... Quanto à questão dos livros, parece mesmo que só vendem por causa da fama do escritor! Ainda não li nenhum, então não posso dar muito palpite, mas tenho vontade de ler, pra tirar minhas próprias conclusões...

    Bjs

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  11. Hum... acho o Jô uma pessoa muito inteligente e informada, mas essas qualidades acabam por atrapalhar em algumas entrevista (ele esquece que o entrevistado está lá para falar rs).

    Já no campo da literatura, certamente tem o facilitador de ser uma pessoa famosa (tenho reparado que várias personalidades se aproveitam desse fato para lançarem seus livros), porém a palavra final fica com o leitor e, confesso estou curiosa para ler o seu novo livro.

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  12. Uma sugestão,"amigo vizinho de blog(ger)":
    http://g1.globo.com/videos/globo-news/espaco-aberto-literatura/t/todos-os-videos/v/jo-soares-abre-as-portas-de-seu-apartamento-e-fala-de-seu-novo-romance/1718068/
    Gosto muito do blog.

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  13. Concordo com o fato de que fama rende muitos livros saindo das prateleiras das livrarias, mas não da para julgar a qualidade da história e a capacidade de escrever do autor só pelo sucesso de vendas, principalmente, porque as pessoas compram mais pela curiosidade, já que gostam do Jô apresentador e querem conferir se ele também é bom em outras áreas.

    Jô já escreveu vários livros, e do que conheci dos seus textos, ele sempre trabalhou com a mesma perspectiva e narrativa, um pouquinho de comédia, tendo sempre pelo menos um personagem fora do comum, e a história sempre oferece uma situação a ser resolvida no final do texto. Este novo livro que ele acabou de lançar eu não conheço então não sei quais foram às mudanças.

    Não li todos os livros que ele já escreveu, porque só li os livros dele que tinha na biblioteca da escola, então não sei se ele mudou seu modo de escrever ou as histórias estão repetitivas, mas quando li na época tinha gostado bastante.


    Bjos
    Aline Goncalves

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