20/12/2011

O poder do nome (2)

A "crença na celebridade"


Na postagem O poder do nome, eu defendo a tese de que as pessoas consomem celebridades, e não qualidade. E isso explicaria por que os livros do Jô Soares, mesmo sendo tidos como meramente medianos pela maioria dos leitores, sempre viram best-sellers.

Sempre que falo sobre o poder do nome como um fator que incrementa as vendas de qualquer produto, lembro de uma história engraçada. No início dos anos 90, eu e meu irmão estávamos procurando um disco em uma loja no Flamengo, chamada Hard Heavy. Como debatíamos sobre o Deep Purple, um outro comprador veio puxar conversa e soltou a seguinte pérola: “Esses caras podem lançar cocô em forma de vinil, que eu compro”. Bem... Nesse caso, dá até para entender a atitude, pois o tal camarada levava fé na qualidade dos discos futuros em função dos brilhantes lançamentos passados da banda. Mas no caso do Jô e de tantas outras personalidades que vemos por aí, as pessoas compram seus produtos não em função de uma qualidade pretérita que eles tenham demonstrado na área específica em que estão se aventurando (o Jô já lançou algum livro que possa ser adjetivado de “genial”?), mas em virtude de um fenômeno que eu chamo de “crença na celebridade”. As pessoas pensam: “Se é famoso, vale a pena”.

A enfermeira Camila Corrêa ficou recentemente famosa após ser filmada torturando o seu cãozinho de estimação na frente da filha, causando a morte do animal. O que aconteceu então? Virou celebridade, mesmo que por via transversa. E se virou celebridade, passou a valer a pena. Vale tanto a pena, que já tem mais de 45.000 seguidores no Twitter. Se ela lançar um livro, certamente vai vender a rodo, independentemente de escrever bem ou não, de contar uma história interessante ou não... É... A “crença na celebridade” faz milagres.

Diante de fatos como esse, passo momentos em que perco a fé em tudo. E fico rindo sozinho com um antigo chiste: se fizerem um muro em torno da humanidade, teremos um hospício; e se colocaram uma lona por cima dela, teremos um circo.

4 comentários:

  1. Certíssimo, Sergio!
    Essa camila correa daqui a pouco vira a nova geise arruda, tou até vendo!
    Não entendi o porque de tantos seguidores. Não é difícil muitos serem curiosos indignados querendo ser o primeiro a saber qual é o próximo 'espetáculo'. É aí que o tiro sai pela culatra.

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  2. Muito bem dito,amigo.
    A escala de valores da sociedade globalizada está totalmente invertida(ou seria bagunçada?).Haja vista o caso da tal torturadora de cães, os ex-BBB(verdadeiras nulidades, na minha opinião)e tantas outras "celebridades" instantâneas que se criam a cada dia, pelos motivos mais estapafúrdios possíveis.
    Onde isso tudo vai dar, só o futuro virá.

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  3. É um absurdo o fato de que essa louca de pedra tenha ganhado tantos seguidores e tenha virado celebridade por um ato nefando e completamente intolerável quanto o de sua tortura àquele yorkshire.

    As pessoas não tem noção de que estão realizando o efeito contrário?

    Mas essa é a humanidade! E por isso a gente não vai pra frente só nos afundamos mais na lama desgracenta que entope o palco do mundo.

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  4. Olá Sérgio! "Adorei a sua indignação". Relata bem o que sinto, assim como muitas pessoas em relação ao "caso da enfermeira Camila Corrêa". Apenas uma pequena reflexão: Será que precisaremos desligar a TV, abandonar a internet e todo o conforto e lazer da vida moderna e regressar para o século XIX, para termos mais consciência, respeito, amor, fé e humildade?

    A cada dia, admiro cada vez mais a sua pessoa. Pode ter certeza, em breve estarei comprando o seu livro. Um forte abraço.

    http://diogo-pimenta.blogspot.com/

    Diogo Pimenta

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